segunda-feira, 29 de abril de 2024

Oficina de Cultura Popular reúne Comunidades da Beira do Fanado de Turmalina

A cultura é inseparável da nossa vida, pois todo modo de vida se traduz em um acúmulo de práticas culturais. A dimensão da cultura popular, principalmente, dos povos camponeses influenciou, em grande parte, muitas outras culturas, inclusive, urbanas. No entanto, uma cultura tão poderosa, vem enfrentando, nos últimos anos, processos de desvalorização e caindo no esquecimento. É importante salientar que cultura e povo não se separam, sendo assim, invisibilizar a cultura popular camponesa é, ao mesmo tempo, enfraquecer o povo camponês.

Essa problematização foi levantada pelos projetos comunitários aprovados no Edital PPP-ECOS GEF 7 do Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN) no contexto da Paisagem Chapada das Veredas. Um conjunto de atividades de fortalecimento e de resgate das tradições culturais foram garantidas, mas, acima de tudo, os projetos reposicionaram a cultura pontuando-o enquanto dimensão transversal. Acrescenta-se também, a participação de crianças, jovens e mulheres, públicos prioritários nas ações dos projetos.

O formato das oficinas de cultura popular parte do princípio do encontro das comunidades, da criação de espaços para a visibilidade, para o aprender e o fazer, fortalecendo laços de união, de trocas, de alegria que são características primorosas dos povos da Chapada das Veredas. 

No dia 28 de abril, na Comunidade Campo Buriti, a oficina promoveu uma tarde cheia de vida, de sorrisos, de cantorias e emoção. A cultura ilumina o esperançar dos povos, é a liga que une luta e utopia, projetando os povos na ocupação dos lugares que almejam chegar. Para iniciar a oficina, Dona Faustina, uma das líderes da comunidade, apresentou uma mística em que alguns símbolos do povo groteiro e chapadeiro foram colocados em evidência para uma reflexão profunda das lutas que estão sendo travadas em detrimento à devastação da terra empobrecida, da água escassa, da morte dos rios, da destruição da monocultura.

Dona Faustina apresentou o coco licuri e o pequi, seu João apresentou a terra da chapada, Ducarmo apresentou a água e a Têra apresentou a terra da grota. A reflexão provocada foi de que essa natureza está sofrendo pelas mãos da ganância do capitalismo que explora de maneira desenfreada e, ao mesmo tempo, explora-se também os povos desse território. A cultura popular é resistência e enquanto manter vivas as danças, as cantigas, as comidas, o artesanato, o modo de vida, o povo groteiro e chapadeiro permanece e alonga suas raízes na Chapada das Veredas. 

Envolvidos nessa magia, o grupo de cultura Resgate de Saberes chamou todos os participantes para dançar roda e jogar versos. Dentre tantas melodias entoadas, destaca-se "Carvão no fogo, quero ver carvão queimar, quero rodar com você até a poeira levantar", "Chora bananeira, bananeira chora, chora bananeira, adeus que eu já vou me embora". Depois das cantigas de roda, houve a dança do vilão cumprido e o vilão de quatro, além das clássicas músicas caipiras entoadas em coro. 

A dança do vilão, do nove, as cantigas de roda, as folias, o bolo cabo de machado e o biscoito de goma criam elos de ligação dos povos da Chapada das Veredas. No fechamento da oficina, houve a partilha de um café da tarde com muitas quitandas e um forrozinho de safona ao vivo de fundo musical. 


















segunda-feira, 22 de abril de 2024

Oficina de Cultura Popular Camponesa promove Encontro de Mestres e Mestras de Cultura na EFAV

A Escola Família Agrícola de Veredinha promoveu, no dia 21 de abril, uma Oficina de Cultura Popular Camponesa que reuniu mestres e mestras de cultura das comunidades do campo de Veredinha: Macaúbas, Caquente, Boiada I, Boiada II, Gameleira e Ribeirão das Posses. Além das pessoas convidadas, a oficina contou com a participação dos/as estudantes da EFAV: as turmas do 1º ano II e 2º ano. O momento iniciou com uma boa prosa e um café da manhã camponês com quitandas caseiras: bolo cabo de machado, bolo de milho, rosquinhas, rosca de coco, biscoito de polvilho, pão doce, goiaba, café, chá e leite queimado.

A oficina começou com os mestres de cultura contando como começaram a fazer parte do movimento cultural. As folias de Reis, São Sebastião e Divino Espírito Santo marcaram a infância de todos e foram nas folias os seus primeiros espaços de vivência com a tradição cultural. As folias representam paixão, devoção, fé e foram passadas de geração em geração. 

Os mestres demostraram preocupação com a continuidade das tradições visto que a maioria dos praticantes já são idosos e as mulheres não estão inseridas de forma igualitária. Essa problematização foi apontada pelo Projeto O Esperançar das gentes camponesas da Chapada das Veredas que busca incentivar a participação de jovens e de mulheres nas tradições culturais e a realização dessa oficina e de um conjunto de outras atividades com jovens e mulheres almejam transformar essa realidade. 

Durante a oficina, os mestres e mestras ensinaram os/as jovens danças e cantorias que compõem as tradições camponesas do município de Veredinha: danças do Nove, Vilão Cumprido, Vilão de Quatro, Roda da Gamela e Toada da Roça. Os mestres fizeram uma demonstração da Folia de São Sebastião e o ensinamento da toada das vozes cantadas: o embaixador da folia que faz a primeira voz, a segunda voz, o contrato e a requinta.

É importante destacar que o Vilão de Quatro e a Roda da Gamela são danças que estão sendo resgatadas, pois deixaram de ser praticadas há muito tempo e serão fortalecidas dentro dos encontros de mulheres, de jovens e oficinas do projeto. A oficina encerrou com um almoço camponês e uma animada roda de viola de sobremesa.





















Oficina de Comunicação e Produção Audiovisual promovida pela EFAV


Escritoras: Laís Marcelina Azevedo, 17 anos, 3º ano da EFAV; Melissa Eduarda Martins Pereira, 14 anos, 1º ano II da EFAV.

Nos dias 15 e 16 de abril de 2024, a EFAV ofertou uma oficina de Comunicação e Produção Audiovisual para jovens e mulheres. A oficina é parte de um conjunto de atividades do Projeto O Esperançar das gentes camponesas da Chapadas das Veredas que foi aprovado pelo Edital PPP-ECOS do ISPN.

A oficina foi ministrada pela comunicadora popular, Daniela Passos, com o apoio de Ana Soares e Gabriel do Socorro. A oficina teve o intuito de ensinar/debater aspectos a respeito de como fazer uma comunicação crítica, observando vários pontos que proporcionam a utilização de recursos acessíveis e explorando relações por meio das artes visuais.

No primeiro dia foi debatido elementos do audiovisual, regras, temas jornalísticos e cinema. O coletivo realizou atividades individuais que abrangeram as problemáticas relacionadas com “O que nos aflige”. Foi proposto a produção de uma fotografia pelo ambiente escolar, trazendo algo que lembrasse o tema e fazer uma modificação com um texto em forma de poemas, textos informativos, reflexivos e humorísticos. À tarde, já em grupo, foi trabalhado uma entrevista decorrente do texto e da foto, analisando tópicos, perguntas e explicando o contexto do que foi discutido.

No dia seguinte, a oficineira fez a proposição de elaboração de pesquisas referentes aos principais problemas enfrentados pela sociedade atual, com o objetivo de analisar essas problemáticas e debatê-las em grupos. Houve uma produção de slides com as pesquisas dos assuntos apontados e, depois, a criação e edição de um vídeo envolvendo os profissionais da EFAV e suas opiniões sobre os assuntos.

A oficina foi de grande importância para os/as jovens, pois contribuiu muito com a formação crítica e aguçou ainda mais a atuação da juventude enquanto pesquisadora das suas próprias realidades.




segunda-feira, 18 de março de 2024

Ouvir a voz das minhas manas!

Neltinha Oliveira dos santos

Sou uma viajante do tempo com o poder da imortalidade! Defini que usaria esse poder para viajar, viajar e viajar. Não só por cidades grandes, mas também por cidades pequenas, mas, de modo especial e muito carinhoso, por todas as comunidades do campo de todos os países. Como gastar tanto tempo de uma vida eterna?! Ainda não sei! É muito tempo de vida e preferi ir definindo por etapas. Durante as minhas viagens nesse período de duzentos anos que completei ontem, procurei observar cuidadosamente a vida das minhas manas e para isso, criei duas perguntas que fazem queimar o meu coração: _onde está a voz das minhas manas?! _onde está a vez das minhas manas?!

Em todas as comunidades que eu chegava, percebia a existência de muitas vozes, mas tinha algo que me incomodava profundamente porque eram vozes silenciadas! É paradoxal, eu sei, mas percebi que era assim mesmo! As vozes das minhas manas escondiam verdades! As vozes das minhas manas escondiam duras realidades! As vozes das minhas manas escondiam sofrimentos! Estavam presas e isso encurralou até os seus sonhos mais doces. Mas como é que se prende a voz de alguém? E gastei um tempo pensando... A voz não é um objeto que prendo dentro da minha mão ou dentro de uma gaiola. Percebi que essa prisão era diferente! Essa prisão acontecia por meio das proibições!

Fui me tornando uma viajante cada vez mais curiosa e atenta aos detalhes de cada modo de vida que tinha a oportunidade de conhecer e conviver! As vozes de proibição eram quase sempre masculinas e eram proclamadas em alto e bom tom: _minha esposa fica dentro de casa! Onde já se viu minha mulher andando solta por aí? Como já dizia meu antigo avô (que Deus o tenha) mulher minha tem que cuidar da casa, dos filhos, da família...se for sair, somente para ir à igreja.

Certo dia, eu estava bisbilhotando o jantar de uma família: eram o pai, a mãe, duas filhas e dois filhos. Inicialmente fiquei feliz ao presenciar aquela cena, mas fui aproximando o meu olhar e enxerguei muitas proibições e todas estavam direcionadas às mulheres. O pai dizia: _minha filha conserta esse jeito de sentar, cruze essas pernas! E dizia para a outra filha: _por que você está rindo? Mulher não pode rir à toa! Se contenha!

Naquela cena terrível, a mãe não defendia suas filhas! Permanecia calada! E assim, o ritual do jantar se iniciava. Por muitos anos me deparei com o mesmo padrão: o patriarca coloca a sua comida e só depois os outros tem o direito de servir o seu prato.

Depois de um tempo, calados e comendo, a esposa, muito timidamente, perguntou ao marido se poderia participar do grupo de roda de cultura da comunidade! Os meus ouvidos sangraram quando o homem disse: _se você participar dessa safadeza pode pegar as suas coisas e ir embora...você escolhe!

Saí de perto daquela casa e me sentei num banquinho debaixo de um lindo pé de Imbiruçu que se localizava há alguns metros de distância. Pensei sobre o silêncio da voz das minhas manas e considerei que os homens faziam as minhas manas silenciarem e considerei que existia uma lei maior que dizia que o homem devia ser daquele jeito grotesco e brutal. Considerei também que a cultura foi moldada e enquadrada dentro de um princípio de que se o homem fala a mulher obedece.

Desde os meus quinze anos de vida até ontem que completei duzentos anos, eu continuo assistindo cenas muito parecidas.

Mas ainda tinha a minha segunda pergunta: _onde está a vez das minhas manas?! E considerei que não existia vez, porque antes de tudo não existia voz!

As mudanças climáticas: agora é possível sentir?

 Autoras: Laís Marcelina Azevedo, 17 anos, 3º ano do Ensino Médio Integrado ao Curso Técnico em Agropecuária; Patrícia Sousa Azevedo, 17 anos, 3º ano do Ensino Médio Integrado ao Curso Técnico em Agropecuária. Revisão: Neltinha Oliveira dos Santos.

Há muito tempo, o debate a respeito das mudanças climáticas vem ocupando as agendas de muitos países ganhando alcance de nível global. Ainda é recente nas pequenas cidades e nas comunidades rurais brasileiras a problematização desse assunto. Vale ressaltar que os agricultores familiares já sentiam essas mudanças, além de vivenciarem esses impactos na pele.

No Brasil, o período chuvoso ocorre de forma mais intensa durante os meses de outubro, novembro e dezembro, no entanto, em 2023, houve grande falta de chuva que afetou do pequeno agricultor ao grande produtor, significando um marco para que essa temática fosse apontada com caráter de urgência.

Essas mudanças podem ser percebidas com a intensidade dos períodos da seca, o aumento da escassez de água, diminuição do lençol freático, a incidência de altas temperaturas, a ocorrência de ventanias muito fortes, maior frequência de raios e chuva de granizo, a perda de sementes, prejuízos nas lavouras e dentre outros.

O fator mais agravante, sem dúvida, é a falta de água e as mulheres são as mais afetadas, pois os seus afazeres, em grande maioria, estão diretamente relacionados com o uso da água. A autonomia da mulher na gestão das suas atividades é altamente precarizada, além da redução das suas práticas produtivas e de geração de renda. Desse modo, percebe-se que as mudanças climáticas contribuem para o aumento da desigualdade de gênero.

No Vale do Jequitinhonha, o trabalho da EFAV e do CAV em defesa da agroecologia, da educação do campo e a implantação de tecnologias sociais de captação de água da chuva amenizam esses impactos ambientais, possibilitando alternativas de geração de renda para as famílias camponesas, além do processo de formação política das mulheres. A presença da EFAV, no território é muito potente que se projeta no presente, a formação dos jovens e, no futuro, adultos, comprometidos com a produção e reprodução da vida humana e da natureza.


quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A ACODEFAV/EFAV fazem aquisição de veículo novo por meio de Termo de Fomento com a SEDESE e Emenda Parlamentar da Deputada Leninha

O Termo de Fomento estabelecido entre SEDESE e ACODEFAV, entidade mantenedora da Escola Família Agrícola de Veredinha, apresenta como eixo central de trabalho a promoção e o fortalecimento da Segurança Alimentar e Nutricional, envolvendo, principalmente, a comunidade escolar EFAV que, atualmente, conta com a participação de dez municípios: Água Boa, Angelândia, Capelinha, Itamarandiba, Carbonita, Veredinha, Turmalina, Minas Novas, Chapada do Norte e Francisco Badaró.

O veículo adquirido irá contribuir no atendimento às demandas de logística para visita às famílias, visitas técnicas às unidades produtivas, atendimento médico dos/as estudantes, viagens de formação de professores e dentre outras.

Imagem: placa de divulgação do Termo de Fomento

Imagem: agradecimento à Deputada Leninha pela Emenda Parlamentar

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

O Plano de Estudo e a Intervenção Externa: diálogos e aprofundamentos críticos e libertadores

Ao longo do ano letivo, a Escola Família Agrícola de Veredinha desenvolve três temas de Plano de Estudo em cada turma: 1º ano I, 1º ano II e 2º ano. A turma do 3º ano tem uma dedicação mais intensa à elaboração do PPJ - Projeto de Vida e Profissional do/a Jovem e, em função disso, as pesquisas realizadas por esses estudantes, em grande parte, estão relacionadas aos temas dos projetos escolhidos.
Dentre as fases do Plano de Estudo, a Intervenção Externa é um momento que precisa ser planejado com antecedência pela equipe de educadores/as e, dentro disso, é importante que a pessoa convidada seja também orientada a respeito das etapas anteriores da pesquisa, por exemplo: os enfoques, a síntese geral, além do olhar crítico do/as educadores/as que coordenam o Plano de Estudo na EFA, isto é, pontos de aprofundamento mais relevantes conforme os contextos do território abarcados pelo tema. 
A cada trimestre realiza-se um Plano de Estudo na EFAV. No 3º trimestre, as turmas do 1º ano trocaram conhecimentos sobre o tema "Relação Sociedade e Natureza" em que o objetivo foi problematizar os diferentes modos de apropriação x usufrutos costumeiros das entidades naturais: terra, água e sociobiodiversidade e o 2º ano teceu diálogos sobre o tema "Políticas Públicas no contexto dos Povos do Campo" que teve como objetivo conhecer as políticas públicas de garantia de direitos aos povos do campo.
Os palestrantes convidados foram Rafael Pereira (1º ano) e Clebson de Almeida (2º ano), mestres em Estudos Rurais, pela UFVJM. Os dois convidados apresentaram uma releitura da História do Brasil e do Vale do Jequitinhonha a partir de um olhar crítico, decolonial, revelando a violência da colonização, a origem da concentração fundiária no nosso país, a exclusão dos povos do campo, a carência de políticas públicas contextualizadas com o modo de vida camponês, o extermínio/apagamento dos povos indígenas e da cultura indígena na formação cultural do Vale.
Rafael explicou sobre o modo de vida das comunidades inter-relacionado com a chapada e a grota e os impactos provocados pela monocultura do eucalipto: ambiental, social, cultural, econômico e dentre outros. Rafael falou do Bem Viver, uma filosofia indígena em que a Natureza é tida como uma Entidade. Clebson dialogou sobre os conceitos de política pública, contexto, povos do campo, terra e território, reforma agrária e o machismo, inclusive, fortemente presente na cultura camponesa.
Tanto Rafael, quanto Clebson destacaram a luta dos movimentos sociais, das organizações da sociedade civil que fazem enfrentamentos a esses grandes projetos de desenvolvimento que geram grandes conflitos, afetando o modo de vida das comunidades tradicionais, além da exploração da natureza. Clebson e Rafael mencionaram também a importância da EFAV no território, pois é protagonista de um projeto coletivo de educação libertadora e comprometida com a defesa dos direitos dos povos do campo e a Agroecologia.
Os estudantes e as estudantes tiveram espaço para elaborar e fazer perguntas, o que proporcionou diálogos extremamente importantes que agregaram novos elementos à compreensão das comunidades dos/as estudantes e do Vale do Jequitinhonha. 
A coordenação do Plano de Estudo das turmas do 1º ano é feita pelos/as monitores/as: José Itamar, Lucimara Alves, Jéssica Beatriz e Fernanda Antonina e, a turma do 2º ano, pelos monitores Vitor Martins e Tiago Carvalho.

Fotos da Intervenção Externa com Clebson de Almeida





Fotos da Intervenção Externa com Rafael Pereira

Na foto abaixo, livro de autoria de Rafael Pereira doado à EFAV e com dedicatória